Jovens estão entre os que mais cometem suicídio no Amapá
No Estado do Amapá, só no ano de 2015, foram registrados 50 casos de suicídio, dez a mais do que em 2014. Cerca de 34 desses casos envolveram jovens entre 15 a 29 anos, segundo o banco de dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Em recente estudo, realizado em setembro do ano passado pelo Sistema de Informação Estatística da Organização Mundial da Saúde, o Estado do Amapá possuía uma média de 10 a 12 suicídios por 100 mil pessoas por ano, ocupando o quinto lugar no País. Dados do SUS colocam o suicídio como a quinta causa de morte entre os jovens amapaenses.
O suicídio, por ser tabu na sociedade, é um assunto evitado. Segundo o psicólogo Carlos Lima, quanto mais o tema for discutido, maiores as chances de diminuir o preconceito sobre ele e sobre a depressão – doença que geralmente se manifesta antes do comportamento suicida. “Com o diálogo, são maiores as chances de ampliar a atenção dos familiares e o estabelecimento de políticas públicas de prevenção ao suicídio”, afirma.
Dos 50 casos de suicídio no último ano, 42 casos foram por enforcamento.
Crédito: Daian Andrade
Andreza Tavares, 19 anos, estudante do Ensino Médio do Município de Santana, foi encontrada pela sua mãe enforcada em seu quarto na manhã do dia 17 de agosto de 2015.
Richelle Mendes, amiga da vítima, contou que Andreza perdeu o pai biológico muito cedo e que, em julho do mesmo ano, tinha passado por problemas relacionados a outra separação. Ela também contou que, em algumas conversas, a vítima já apresentava sinais de depressão. “Ela não chegou a comentar algo diretamente, mas me dizia que não tinha amigos e que se sentia sozinha”, relata Richelle. Ela ainda conta que na madrugada antes do ocorrido, Andreza se embriagou e chegou em casa apenas às nove horas da manhã. Discutiu com a mãe e foi para o quarto, local onde a jovem foi encontrada morta momentos depois.
De acordo com Elias Dutra, voluntário do Centro de Valorização à Vida (CVV), muitas vezes os jovens tomam a decisão pelo suicídio após uma situação de grande tensão como, por exemplo, o rompimento de um relacionamento, um fracasso escolar ou profissional, conflitos familiares ou problemas relacionados a transtornos mentais aflorados pelo uso de bebidas alcoólicas ou outras drogas.
Suicídio entre jovens
O psicólogo Carlos Lima diz que o ato do suicídio, geralmente, ocorre entre os jovens por ser um período de transição, de transformações e de inúmeros conflitos internos. “É toda uma pressão social com eles”, afirma.
Guilherme Lopes, 17 anos, de Macapá, foi encontrado em seu quarto às 14h. Havia ingerido veneno para rato. Foi encaminhado ao hospital, mas já estava sem vida. Segundo Adriele Lopes, prima do rapaz, o acontecimento foi um choque, pois Guilherme estava sempre alegre e não demonstrava nenhum sinal de um comportamento suicida.
No entanto, a melhor amiga de Guilherme, Amanda, relatou à Equipe do Cuíra que ele vinha se queixando da pressão que estava recebendo de seus pais por não aceitar sua orientação sexual. “O Gui reclamava sempre que eles não aceitavam o fato dele ser gay, além do preconceito na rua, ele não podia contar com a família dele”, conta Amanda.
Segundo a psicóloga Ana Julia Barros, da Vara de Violência Doméstica, o suicídio pode ser consequência de uma psicose, em que uma pessoa de repente em surto maníaco bipolar passa por um sofrimento mental. “O estado depressivo é um estado de sofrimento mental, muito mais dramático. É quando falta motivação para tudo.”, explica ela.
O suicídio causa sentimento de culpa nas famílias. Foi o caso da aposentada Tereza de Jesus, de 59 anos, que perdeu um filho aos 29 anos de idade. Ela diz que quando chegou à casa e o encontrou enforcado no meio da sala passou mal. “Por muitos anos, me senti culpada pela morte dele, mesmo ele tendo tirado a própria vida. Até hoje me pergunto o que faltou eu ter lhe dado”, lamenta.
Prevenção
A prevenção do suicídio muitas vezes é possível. O indivíduo geralmente dá sinais de um desequilíbrio emocional, mas que quase sempre passam despercebidos por familiares e amigos. Segundo o sociólogo André Mendonça, o crescimento da taxa de suicídios pode ser interrompido com medidas de baixo custo. “O suicídio jamais foi tratado, no Estado, como sério problema de saúde pública, conforme recomenda a OMS. Nosso sistema de saúde não possui a menor estrutura para orientar e acompanhar os fragilizados pela angústia que cerca esse drama”, completa André.
Existem campanhas de prevenção ao suicídio no Estado em decorrência da campanha nacional denominada “Setembro Amarelo”, porém não se mostra eficaz para evitar o crescimento dos casos. A Secretaria de Estado da Saúde do Amapá organizava uma roda de conversa todas as quartas-feiras com os pacientes psiquiátricos do Hospital Geral para tratar de assuntos como depressão, mas segundo informações dadas na recepção do hospital, a atividade não é mais realizada. A reportagem procurou a SESA para saber os motivos do encerramento das atividades, mas não obtivemos respostas.
Dos três casos de envenenamento, dois chegaram com vida no hospital, mas não resistiram.
Crédito: Daian Andrade
Setembro Amarelo é uma campanha organizada pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio. Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. Em uma tentativa de reduzir esse número — a meta da OMS é diminuir em 10% a taxa mundial até 2020 —, a Associação Internacional de Prevenção do Suicídio criou a campanha do Setembro Amarelo e estabeleceu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. A ideia é discutir o assunto e divulgar ações preventivas.