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Pacientes com AIDS denunciam falta de medicamentos na rede estadual de saúde

Péssimas condições de atendimento no Centro de Doenças Trasmissíveis, do Hospital de Clínicas Alberto Lima, também é alvo de reclamações das pessoas vivendo com HIV

Os pacientes soropositivos do Estado do Amapá sofrem com a falta de medicamentos antibióticos. Sem medicação, muitos acabam vítimas de doenças oportunistas e tem o estado de saúde agravado. Remédios como Sulfa, Ambroxol Xarope e Ganciclovir são indispensáveis ao paciente que está internado no Centro de Doenças Transmissíveis (CDT).

Medicamentos básicos não são encontrados na Enfermaria do Serviço de Atendimento Especializado (SAE)

Crédito: Daian Andrade


Estas medicações deveriam estar na farmácia do Serviço de Assistência Especializada (SAE), local que presta assistência aos soropositivos de todos os municípios do Amapá. Porém, a situação não é essa. Muitos pacientes com AIDS procuram antibióticos para evitar doenças oportunistas como a pneumonia, mas não encontram remédios disponíveis.

“O soropositivo chega lá no SAE e tem que tomar um antibiótico para evitar uma doença oportunista, como a pneumonia. O cidadão, que quase não tem dinheiro para comer, precisa dar um jeito para comprar um remédio, pois na farmácia, muitas vezes, não tem sequer paracetamol para tirar a dor”, desabafa Antônio Carlos, 35 anos, há 12 anos portador do vírus HIV.

A falta de medicamentos antibióticos deixa o sistema imunológico do portador do vírus HIV mais frágil. Com isso, torna-se uma vítima de doenças oportunistas, como pneumonia, infecção por fungos, diarreia, entre outras. “A ausência de antibióticos vai agravar a doença do paciente. O antibiótico é uma das medicações que, junto aos anterretrovirais, combatem as doenças oportunistas. O antibiótico é essencial para aqueles que são portadores do vírus HIV”, explica a enfermeira Adriana Coimbra.

As reclamações sobre o atendimento no SAE são corriqueiras. O paciente, identificado como João para preservar sua identidade, tem 42 anos e é natural do Maranhão. Ele é soropositivo, mora há 12 anos em Macapá e diz que, além da falta de medicamentos como Sulfamenzol e Ambroxil, ainda passa por constrangimentos ao buscar por medicamentos.

“Eles (atendentes) colocam burocracia em tudo. Fui atrás de medicamentos para doenças oportunistas, mas quando cheguei lá (SAE), me trataram muito mal, dizendo que não tinha o medicamento e muito menos previsão para ele chegar”, desabafa.



Posicionamento oficial


De acordo com o SAE, a medicação é fornecida pela Central de Assistência Farmacêutica do Estado (CAF). “Essas medicações são solicitadas mensalmente a Central de Assistência Farmacêutica do Estado. Ficamos na dependência da CAF atender ou não o nosso pedido, pois não compramos medicações.”, explica Rodiene Moraes, Coordenadora do Serviço Atendimento Especializado (SAE) /CTA (Centro de Tratamento e Aconselhamento).

Rodiene Moraes, Coordenadora do Serviço de Atendimento Especializado (SAE). Crédito: Daian Andrade

Em relação às denúncias quanto ao atendimento no SAE, a diretora diz que muitas vezes os pacientes não entendem que é necessário passar por todo um processo para receber sua medicação. “Muitas vezes o cidadão não compreende que ele deve passar por uma consulta médica pré-agendada, assim como seus exames. Feitas estas etapas, ele estará apto a ser atendido”, afirma Rodiene Moraes.

De acordo com dados do Serviço de Assistência Especializada (SAE), 2.220 pessoas com HIV estão cadastrados no sistema do órgão. Só no ano de 2015, 300 pessoas com HIV foram cadastradas.

A coordenadora do SAE informou à reportagem do Cuíra que, no ano passado, enviou um ofício à Secretaria de Estado de Saúde do Amapá (SESA), expondo a falta de medicamentos no SAE. Porém, não obteve resposta sobre tal situação.

O Serviço de Atendimento Especializado conta com médicos (ginecologia, pediatria, clínico geral e infectologista), três enfermeiros, psicólogo, nutricionista, assistente social, técnicos de enfermagem, biomédicos e técnicos de enfermagem. O serviço funciona nas dependências do Hospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL).

A Reportagem entrou em contato com a Coordenação da Central de Assistência Farmacêutica do Estado (CAF) para saber os motivos da falta de medicamentos no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.



Taxa de mortalidade

O índice de mortes por AIDS teve queda em 2015 no Amapá, de acordo com informações da Coordenação Estadual do Programa de DST/AIDS e Hepatites Virais. A taxa de mortalidade diminuiu de 6% em 2013, para 2,6% em 2015, representando um número aproximado de 15 óbitos. Em 2014 foram registradas 17 mortes em decorrência da doença.

O incentivo ao diagnóstico e ao início precoce do tratamento, antes mesmo do surgimento dos primeiros sintomas da doença, refletiram na redução da mortalidade e a morbidade do HIV. Desde 2003, houve uma queda de 10,9% na mortalidade dos pacientes com AIDS no país. A taxa caiu de 6,4 óbitos por 100 mil habitantes em 2003 para 5,7 óbitos por 100 mil habitantes em 2014. Em 2014, foram registradas 12.449 mortes.

A epidemia no Brasil está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 19,7 casos a cada 100 mil habitantes. Isso representa cerca de 40 mil casos novos ao ano. Desde o início da epidemia de AIDS no Brasil – em 1980 –, até junho de 2015, foram registrados no país 798.366 casos de AIDS.



Condições precárias de enfermaria no HCAL

A Enfermaria do Centro de Doenças Transmissíveis (CDT), que fica no Hospital de Clinicas Alberto Lima (HCAL), em Macapá, é alvo de reclamações pelos pacientes. Eles relataram à Reportagem que o local não oferece estrutura adequada para o tratamento de pessoas com HIV no Estado.

Enfermaria do Centro de Doenças Transmissíveis (CDT) Hospital de Clínicas Alberto Lima (HCAL)

Crédito: Arquivo Pessoal de Márcia Pinheiro (Presidente da Associação de Amigas e Mulheres Amapaenses Posithivas (A.AMAPH)


Os pacientes apontam que o lugar não possui ventilação, não tem ar condicionado ou centrais de ar. Além disso, os pacientes que são internados na enfermaria relatam que os colchões são velhos e as camas de ferro estão enferrujadas.

“Se sua família não estiver no quarto para limpar o paciente, para tirar sua barba, dar comida na boca, água, o paciente vai morrer de sede e fome. Os enfermeiros não dão água e comida aos pacientes. Isso é desumano”, desabafa Márcia Pinheiro, presidente da Associação de Amigas e Mulheres Amapaenses PositHIVas (A.AMAPH).

O Jornal Cuíra entrou em contato com a Assessoria de Imprensa do Hospital Alberto Lima (HCAL) na tentativa de marcar uma entrevista com o titular para esclarecer as acusações feitas pelos pacientes. Até o fechamento desta edição, não obtivemos retorno


Márcia Pinheiro, Presidente da Associação de Amigas e Mulheres Amapaenses PositHIVas (A.AMAPH)

Crédito: Daian Andrade



Falta de apoio


Além da falta de atendimento qualificado na rede pública estadual de saúde, a Associação que atende as pessoas que vivem com HIV/AIDS sofre com falta de apoio. A Associação de Amigas e Mulheres Amapaenses PositHIVas (AMAPH) corre o risco de fechar por falta de recursos.

Há 13 anos, Márcia Pinheiro recebe pessoas que tiveram o diagnóstico positivo para a doença e as abriga na AMAPH. A instituição, desde sua criação, já atendeu mais de 600 pacientes entre homens e mulheres. A maioria dos pacientes é do interior do Estado e contam apenas com a ajuda da instituição, enquanto realizam tratamento na Capital.


Casa de Apoio. Crédito: Daian Andrade

A casa é mantida por doações. Em 2003, era uma casa simples madeira no bairro do Buritizal. Sem reunir condições financeiras, os membros da Associação enfrentavam o preconceito e pediam dinheiro na rua, como lembra Márcia. “A gente pedia na rua, com uma equipe na orla da cidade pedindo R$ 1,00, R$ 2,00. Depois de um ano, a Associação estava apta para receber recursos. Então, através do Projeto Portas Abertas, conseguimos um recurso no valor de R$ 16.000(dezesseis mil reais), onde conseguimos montar uma casa, comprar camas, lençóis entre outras coisas”, explica Márcia.

No Ano de 2013, a AMAPH fechou um convênio com a Assembleia Legislativa do Amapá, no valor de R$ 1.000 (um mil reais) mensal. O recurso custeava despesas de aluguel, água e luz. Atualmente, o valor dos repasses é de R$ 3 mil.

A casa de apoio fica localizada na Rua dos Piquiás, número 256, no bairro do Açaí, zona Norte de Macapá.


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