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O lado B da música amapaense

  • André Cantuária e Fábio Guerreiro
  • 20 de jan. de 2015
  • 4 min de leitura

História de artistas locais revelam dificuldades para viver de música em Macapá


Luiz Sabioni ensaiando com a banda O Sósia. Grupo lançou o trabalho pela internet

Créditos da foto: André Cantuária

Para alguns artistas amapaenses viver da música é cada vez mais difícil. A incerteza sobre o faturamento e agendas de shows é uma preocupação constante, situação que obriga os músicos a buscarem outro trabalho.


Alecsandro Cantuária é músico, mas atua como agente marítimo em uma empresa particular do Amapá. Apesar do emprego, ele trabalha com música há 6 anos e tem projetos com várias bandas além do trabalho solo. Pelas dificuldades de espaço para apresentar o trabalho musical dele, Alecsandro produz em casa e divulga o trabalho através das redes sociais sem retorno financeiro.


“A música entrou na minha vida quando eu ainda era adolescente e, logo de cara, já me interessei em tocar contrabaixo. Quando comecei a ter aula de violão eu já queria compor músicas e formar uma banda para poder tocar”, diz Alecsandro.


“Mas antes mesmo de entrar na cena de música aqui na cidade, acabei indo tocar na igreja com uns amigos e o que na verdade me fez entrar na igreja foi a música. Lá tínhamos uma oportunidade de tocar mais e fazer apresentações”, declara Alecsandro.


Luiz Sabioni mora em Macapá há 3 anos e trabalha como veterinário. Ele atua com mamíferos aquáticos na Amazônia e é bolsista de um instituto de pesquisa que desenvolve ciência em torno da conservação dos recursos sustentáveis na região. O emprego exige grandes responsabilidades e muitas vezes demanda tempo, mas Luiz diz não abrir mão da música.


“Eu comecei em Londrina, minha cidade natal, enquanto estudava veterinária, fazia as duas coisas ao mesmo tempo. Era um hobby que aproveitava para ganhar um dinheiro”, afirma Luiz.


Aos poucos a música tomou mais espaço na vida de Luiz. O músico gravou com bandas em sua terra natal. “Ao vir para o Amapá trouxe o meu instrumento, o contrabaixo, é uma coisa que eu não consigo desligar, apesar de ter uma profissão. A música faz parte do meu dia a dia e da minha satisfação pessoal diariamente”, comenta.


Os músicos que desejam viver do próprio trabalho esbarram na falta de incentivos para elaborar projetos e concorrer a recursos públicos. A pesquisadora Heluana Quintas aponta que, apesar do acesso a informação pelas redes sociais, os músicos ainda enfrentam falta de informação sobre políticas publicas para financiamento de projetos.


De acordo com a pesquisadora, não existem ações do poder público para apoiar a produção e distribuição de produtos musicais. O apoio é essencial para músicos iniciantes. Com a falta de incentivos, muitos artistas procuram alternativas, como a produção em Home Studio, as conhecidas gravações caseiras. Outra saída é a associação a grupos, os chamados coletivos culturais. Nesses espaços, muitos músicos encontram estrutura e apoio para divulgar e promover o trabalho.


Com o acesso a tecnologias de gravação e o baixo custo para produzir, os músicos estão apostando em estúdios caseiros. “Apesar de ter banda, eu também tenho meu trabalho solo, onde praticamente a banda sou eu, gravo todos os instrumentos em casa, com o programa que uso. Eu já divulgo pelas redes sociais, isso facilitou bastante o registro das minhas músicas”, afirma Alecsandro.


Apesar de, na teoria, as políticas públicas parecerem funcionarem para quem vive de cultura, a realidade é bem diferente. “O que nós temos pesquisado e visto é que as políticas são políticas de governo, que elas passam e são decididas à medida e ao interesse dos gestores que estão liderando e estão naquele momento responsáveis pela área de cultura”, explica Heluana. Para a pesquisadora, essa é a realidade do estado do Amapá.


Além de conciliar trabalho e carreira musical, alguns artistas se aventuram na noite, com apresentações em bares e festivais.


Sobreviver da música


“Certamente se eu tivesse que me sustentar ou tirar alguma renda através da música em Macapá não seria possível, o dinheiro que entra através da música é um bônus, não posso chamá-lo nem de complemento por que é um dinheiro que não conto”, afirma Luiz.


Apesar dos artistas ainda tentarem viver da própria música em Macapá, muitos ainda se submetem ao valor que o mercado oferece.


Segundo o músico Paulo Bastos, antes de fazer apresentações, existe todo um processo de produção e investimento por parte dos músicos. Apesar disso, o profissional é desvalorizado. “Digamos que você vai tocar em um casamento, eu trabalho com três pessoas, paga R$ 1.500 para nós. Ai o cara diz que está caro e quer quebrar pela metade e deixar por R$ 800. E não é só chegar e tocar. Tem todo um processo por trás. É a paixão que temos por nossa arte que faz a gente se sujeitar a isso. Nós somos ‘prostitutos’ é assim que funciona. Então a nossa profissão requer muita habilidade”, falou Bastos.


Internet


Pepeu Ramos, produtor musical e músico, sugere alternativas. “A gente vive em um estado isolado geograficamente, mas o que nos ajuda é a internet. Para muitos músicos funciona muito bem”, afirma Pepeu.


Um bom exemplo de como a rede pode ajudar com a divulgação dos músicos em Macapá é a banda O Sósia, que lançou seu EP (demo) pela internet em 2015. “Passamos uns três anos gravando de forma independente, em casa mesmo. Quando terminamos decidimos lançar pela internet, porque saia mais barato. Tivemos um resultado muito bom, muitas pessoas não só daqui de Macapá, mas de outros estados escutaram o nosso trabalho”, disse Alecsandro, que é um dos membros da banda.


Hoje no cenário musical amapaense, o músico que produz nem sempre é o profissional, mas tem a música como hobby ou atividade extra. Para se manter, o profissional deixa de compor e divulgar o próprio trabalho e acaba ‘tocando’ na noite se quiser garantir o próprio sustento.






 
 
 

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