A Pequena Menina Cantora
- Edinalva Monteiro
- 23 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
Fim da noite. Saio da sala de aula, satisfeita por mais um dia de aprendizado e conhecimentos adquiridos. Sigo em frente, andando pela rua da universidade passo ao lado do bloco de Ciências Ambientais, um dos blocos mais bonitos que já vi por aqui com vários desenhos pintados e várias plantas ao seu redor, atravesso para o outro lado da rua e vejo a quadra esportiva, quadra grande, mas pouco utilizada. Vou seguindo em frente até chegar a entrada da universidade onde minha parada está localizada, me dirijo à ela para esperar o ônibus que me levará para casa.
Passam-se “vários” minutos e eu ainda na parada aguardando o ônibus que me levará desse município para aquele onde eu moro. Já se tornou normal esperar tanto, mas é estressante, é angustiante. Passou-se mais alguns minutos e avisto de longe o nome do ônibus que irei pegar. Dou sinal com a mão junto com uma multidão de estudantes e trabalhadores que também o aguardavam para voltar pra casa, o ônibus pára. Como de costume, já está lotado, mas consigo entrar e mesmo em pé me acomodo entre os passageiros, e o motorista segue viagem.
Muita conversa tomava conta do ambiente. Porém, entre todo esse alvoroço, notava-se um som, de uma criança cantando, especificamente a voz era de uma menina. Procurei descobrir onde estava sentada essa menina. Olhei para um lado, olhei para o outro, e nada. As pessoas estão tão aglomeradas que é impossível ver algo. O ônibus pára. Descem três passageiros. Mas ainda está muito cheio. Desisto de procurar. Abaixo a cabeça, mas continuo ouvindo toda aquela cantoria, que soava no fundo do ônibus.
Parada ainda no mesmo lugar com a cabeça baixa imagino: por que esta menina está cantando em meio a todos estes rostos cansados e esgotados? por que a letra da música é direcionada ao motorista? A dúvida prevalecia. Novamente o ônibus pára. Cerca de cinco ou seis pessoas descem. A parte da frente do ônibus já não tem muitos passageiros em pé. Pago a passagem com a carteirinha, passo pela roleta, com a curiosidade e ansiedade de saber quem é e onde está essa menina que viajava conosco cantando.
Tento mais uma vez ver quem era e onde ela estava sentada... Impossível!
O ônibus agora está passando pela ponte que separa o município que estudo, Macapá, daquele onde eu moro, Santana, pela terceira vez o ônibus pára, em um
ponto movimentado, descem muitas pessoas. As que permanecem, disputam entre si os lugares vazios. O veículo anda. E continuo a ouvir a canção da menina. Parada à vista, sei que mais pessoas irão descer, me preparo para ir andando em direção aos bancos da frente, esperando encontrar a menina cantora. O ônibus para. As pessoas descem. Então, olho para a frente e me deparo com a pequena menina cantora, acho que ela deve ter uns 6 anos, está sentada bem próximo ao motorista e cantando a mesma canção a viagem toda “Seu motorista, motorista, olha o poste, olha o poste. Não é de borracha, não é de borracha, vai bater, vai bater”. Sua voz é firme, tentando realmente chamar a atenção do motorista que dirigia em alta velocidade e ninguém além da pequena menina estava se importando com aquele fato, fatos como este que tira diariamente a vida de muitas pessoas.
Enfim, é hora de descer. Estampo um belo sorriso em meu rosto, admirando toda aquela firmeza e bravura de uma pequena criança que com uma simples música sabe muito bem o que quer repassar, não só para o motorista, mas para todos que estavam nesse transporte público. Desço do ônibus com a certeza de que muitas pessoas acabam esquecendo dos riscos que a vida tem, e que por um cansaço e pela vontade de chegar rápido em suas casas acabam ignorando tudo, até sua segurança no trânsito.
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